O sonho de Kenneth Kaunda

Kenneth Kaunda

Kenneth Kaunda

Yurién Portelles*

Kenneth Kaunda, de 89 anos, caminha como se levasse consigo o peso da história africana, que ele conhece muito bem, particularmente de sua saudosa Zâmbia. O ex-presidente zambiense (1964-1991) é um velho amigo de Cuba, país que já visitou por quatro vezes e, na mais recente, recebeu a Ordem da Solidariedade, outorgada pelo Instituto Cubano de Amizade com os Povos. Ainda canta e compõe, algo desconhecido para muitos, sua vida está marcada pela luta desde a juventude pelos ideais de justiça, que o levaram a sofrer encarceramento em mais de uma oportunidade. Hoje tem um sonho para a África que confessou ao repórter em uma fresca tarde de junho em La Habana.

Quais são, em grandes rasgos, as fortalezas e as debilidades da União Africana (UA) na construção da unidade continental e para enfrentar as ameaças externas?

Entre as principais fortalezas se encontra o fato de que estamos conscientes da unidade no continente e, foi dessa maneira que nos transformamos da Organização para a Unidade Africana (OUA) para a UA, atualmente presidida por uma mulher. Esso para mim é uma grande alegria e algo que tem grande importância pelo papel que elas desempenham na nossas sociedades. Por outro lado, no continente africano, diferentes organizações integracionistas como o Mercado Comum para África do Leste e o Sul (Comesa), a Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral (Sadc), a Comunidade Econômica e Monetária da África Central (Cemmac), entre outras, são as bases da unidade, mas também para o fomento da cooperação econômica entre esses países.

Entre a debilidades persistentes em  primeiro lugar devemos combater a pobreza de maneira mais eficiente. Existem diferentes linhas de trabalho com e

isso objetivo mas é algo que temos que explorar o máximo possível. Temos um grande potencial nos minerais, mas até o momento não exploramos tudo o que se poderia. Devemos desenvolver a agricultura para produzir alimentos não só para o continente mas para o mundo. Falta-nos avançar muito no campo da educação e construir estabelecimento para as diferentes disciplinas a fim de poder progredir rapidamente.

Qual a sua opinião sobre os novos líderes africanos diante dos desafios que devem enfrentar diante da UA?

No início da luta em nosso continente tivemos um número de líderes importantes que foram fundamentais para a união porque deixaram grandes ensinamentos para todos, porém, agora também há líderes, como pudemos ver na recente reunião de cúpula da UA na Etiópia, prontos para se unirem e continuarem a luta. O objetivo é continuar a luta contra os inimigos comuns dos africanos e do mundo, como são a fome, a ignorância, a corrupção, o crime, as enfermidades  e, sobretudo, a exploração do homem pelo homem. E quando temos líderes jovens dispostos a vencer, então há esperança para todos.

A partir de sua visão de estrategista político, qual a importância dos processos integracionistas  nesta região como a Comunidade de Estados Latino-americanos e Caribenhos e a União de Nações Sul-americanas?

Não há dúvida de que atualmente os seres humanos estão ativos na esfera da cooperação porque com isso se resolvem muitos problemas. Nesse sentido, em nosso continente existem divisões por questões de religião, como o conflito entre sunitas e xiitas. Esperamos que nossos líderes tenham disposição de se unirem paa buscar a maneira para que os povos resolvam esses conflitos. Porque se algo pode deter o desenvolvimento de um estado ou de um continente é precisamente a falta de unidade. 

Como se sente com essa homenagem outorgada por Cuba?

É esta que tenho aqui (mostra a Medalha no peito). Estou muito feliz por isso. Vindo de Cuba que já conquistou importantíssimos avanços na agricultura, engenharia, educação. Aprecio o que os cubanos têm feito por nós durante muito tempo e é lutar contra a exploração do homem, e por isso estou feliz com esse reconhecimento. Ambos os países lutamos pela independência em seu momento e agora o fazemos pelo bem estar de nossos povos. Fidel Castro, é líder histórico da Revolução Cubana, um homem que compreendeu o mundo de uma maneira muito própria, tal como Kenneth Kaunda. Ambos encontramos algo em comum: lutar contra a exploração do homem onde quer que exista, e isso é o que vimos fazendo. Durante muito tempo Cuba nos ajudou e atualmente colabora com África para conquistar a instrução e a educação de seus habitantes. Por isso estou feliz por este reconhecimento.

Qual o sonho de Kaunda para África?

Desde minha posição mais humilde, meu sonho para a África é a esperança. Continuar crescendo, desenvolvendo. Sem dúvida temos muitos problemas, mas se resolverão pouco a pouco e seja no norte ou no sul, continuaremos em frente.

*Prensa Latina de La Habana para Diálogos do Sul