Soka Gakkai e a liberdade de culto em Cuba

SGI-CUBA_LOGOWaldo Mendiluza *

A paz mundial e a felicidade humana marcam o caminho da Soka Gakkai Internacional, sociedade que segue o Budismo de Nichiren, que há vários anos encontrou espaço em Cuba.

Mais de meio milhão de praticantes em 13 das 15 províncias cubanas integram a entidade, reconhecida juridicamente em 2007 na ilha, aonde enfrenta o desafio de expandir os ensinamentos de Nichiren, monge japonês do século XIII que deixou seu legado em escrituras conhecidas como Gosho.

A paz mundial e o progresso social constituem prioridades de trabalho para os budistas daquele país caribenho, assegurou em Havana a diretora geral da Soka Gakkai de Cuba, Joannet Delgado.

Em uma entrevista exclusiva para Prensa Latina, a líder religiosa disse que esses objetivos constituem o foco das reuniões mensais do grupo, as quais se caracterizam pela oração e o contato com a comunidade.

Segundo Delgado, a convocação para a paz pelos praticantes cubanos do budismo está em sintonia con os propósitos da Soka Gakkai Internacional, sociedade para a criação de valores, com sede em Tóquio, dirigida por Daisaku Ikeda e que tem representação em 192 países e territórios.

Ikeda envia todos os anos propostas de paz para as Nações Unidas, reflexões que incluem a necessidade de eliminar as armas nucleares, por seu perigo para a sobrevivência humana.

Quanto a isso, com nossa prática, buscamos daqui levar à busca de um mundo pacífico, a partir do estudo da filosofia budista e de seu propósito de buscar tirar o melhor do ser humano, disse Delgado.

Origens em Cuba

Daisaku Ikeda visitou Cuba em 1996, convidado pelo então ministro da Cultura, Armando Hart.

Na ilha, o budista, promotor da paz, escritor e poeta, cumpriu uma intensa agenda, que incluiu um encontro com o líder da Revolução cubana, Fidel Castro, condecorações e a recepção de um doutorado honorário na Universidade de Havana.

Na época havia só sete famílias que tinham o Gohonzon (objeto de devoção), mas não todas praticavam o budismo e, em geral, não sabiam muito sobre ele, disse a diretora geral da Soka Gakkai de Cuba.

Segundo ela, a visita de Ikeda marcou o início do desenvolvimento dessa religião, que tem mais de 12 milhões de seguidores no planeta, a maioria no Japão.

Em 1998 criou-se uma primeira organização, muito simples, que foi evoluindo até a atual, explicou.

A líder religiosa relatou que em Havana está a maioria dos praticantes do Budismo de Nichiren no país caribenho, estando a provincia de Holguín em segundo lugar e Camaguey em terceiro, quanto a membros da Soka Gakkai.

Com o passar do tempo, a organização foi consolidando sua estrutura em divisões, assim como seu funcionamento.

Reunimo-nos duas vezes por mês, uma delas para orar pela paz mundial e a outra para um diálogo, reunião para a qual são convidados amigos e membros da comunidade, para conhecer algo sobre o budismo e trabalhar em função da felicidade coletiva e do desenvolvimento do país, acrescentou.

Segundo ela, os encontros tornam-se esforços em prol da convivência harmônica e do estímulo a valores relacionados ao aperfeiçoamento humano.

Se mais pessoas no mundo soubessem mais sobre o budismo, estaría garantida a felicidade no planeta, opinou.

“É preciso preservar a vida, viver em harmonia com o ambiente e entender a importância de viver em paz e ser feliz”. 

Para a prática do budismo

O governo cubano propicia um cenário favorável à liberdade religiosa e mantém boas relações com os diferentes credos e instituições, afirmou Delgado.

A líder religiosa explicou que as relações com o Estado são “muito cordiais e de grande confiança” e, portanto, “não encontramos obstáculos para levar adiante nossa faina de criar valores”.

Cada vez que solicitamos apoio para resolver problemas ou necessidades recebemos rapidamente atenção, relatou.

Para Delgado, a prova desses laços Estado-instituições religiosas é a sistemática realização de encontros com dirigentes e funcionários do Partido Comunista de Cuba, e também do Ministério da Justiça.

Trata-se, acrescentou, de intercâmbios em que abordamos interesses, objetivos e necessidades.

Com relação às relações com o exterior, disse que há bons vínculos com outras sociedades e com a Soka Gakkai Internacional.

Mantemos contatos com budistas de outros países, que com frequência se surpreendem com as facilidades que temos para desenvolver nossas atividades, declarou.

“A liberdade religiosa que veem aqui contrasta com a propaganda anticubana que recebem no estrangeiro, razão pela qual são muito positivas estas aproximações à realidade de Cuba”.

Delgado comentou que recentemente visitou a ilha um grupo da Soka Gakkai dos Estados Unidos, que comprovou o avanço do budismo de Nichiren, mas, também, as limitações causadas pelo bloqueio norteamericano.

Os visitantes estadunidenses não sabiam do bloqueio e de suas múltiplas restrições, que puderam comprovar quando voltaram a seu país e tentaram  enviar-nos bibliografia, contou.

De acordo com a diretora geral da Soka Gakkai de Cuba, essa sociedade budista laica avança na nação caribenha, embora não faltem aspirações e desafios, como uma maior adesão dos jovens.

*Da redação nacional de Prensa Latina para Diálogos do Sul